Tuesday, September 27, 2016

“A pessoa com deficiência na minha história de vida”

A questão da inclusão começou no ensino médio para mim. Lembro-me de que, quando estava no primeiro ano, tive o primeiro contato na escola com um deficiente visual. Ao vê-lo se locomovendo e estando na sala com a máquina de Braille, várias coisas e questionamentos passaram pela minha cabeça. Uma delas era: como ele aprende sem ver? Essa inquietação ainda me move. Questiono-me se a cognição dos deficientes visuais é diferente do vidente. Imagino e pelo que estudei sim. Entretanto, não sei em termos neurológicos como. 
Voltando ao meu colega de sala... poucos eram os professores que se importavam com ele aí. O incômodo era maior conosco, alunos. partiu de nós a ideia de auxiliá-lo durante as aulas. Ele já tinha um colega que o ajudava na locomoção, mas não tinha ajuda - além da sala de recursos que frequentava no contraturno - durante as aulas. 
Oferecemo-nos para auxiliá-lo, ajudando na explicação, resolução de exercícios e tirando suas dúvidas. Acho que aprendi mais com ele do que ele comigo em língua portuguesa. Ele me ensinou a "traduzir" o Braille e como fazer surgirem de 9 teclas uma infinidade de textos. Aprendi como ele "via". Um dia ele me disse que eu devia ser bem bonita, pois a minha voz era doce. Quando ele tocou o meu rosto disse "seu nariz é redondo". Enfim... foi uma experiência sem igual. 
Posteriormente, após meus estudos de licenciatura em Letras, fui fazer uma pós na Espanha, país onde a inclusão de deficientes visuais é levada a sério. A organização ONCE é muito bem estruturada, quer dizer, era. 
Tentei fazer alguns estágios e visitar o espaço, mas não consegui. O prédio acabara de ser fechado. Entretanto, as pesquisas lá são muito desenvolvidas e comprei livros e busquei professores que pudessem me orientar nessa área. Infelizmente, não levei adiante o desejo de fazer mestrado em ensino de espanhol para deficientes visuais.
Nos últimos anos, dando aula, percebi que o número de alunos com necessidades especiais - não sei se o politicamente correto aceita este termo - aumentava na escola (ainda bem!!), mas o sentimento de impotência também me tomava. Não sabia e não sei ainda teoricamente o que devo fazer na prática. Algumas decisões que tomei com alunos autistas, com distúrbios de aprendizagem, foram decisões pessoais e experenciais. Ainda almejo poder ter plena consciência do que e por que estou fazendo tal coisa. 
Espero que o curso auxilie nessa descoberta, construção e reconstrução de prática docente.